Após ser nomeado Bispo de Olinda em 1794, José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho iniciou uma empreitada junto ao governo português que se revelaria a mais fantástica e dramática saga para a constituição de uma obra que será conhecida mais tarde como a primeira e consistente tentativa de desenvolvimento de uma estrutura educacional com ares progressitas e iluministas na colônia brasileira: O Seminário de Olinda. O sonho de Azeredo era constituir uma instituição que pudesse formar homens instruídos nos conhecimentos técnicos necessários para o desbravamento e descoberta das riquezas ainda inexploradas da colônia. Para o Bispo, enquanto a ignorância fosse a marca dos homens de comando na colônia, menor seriam as chances de um melhor aproveitamento das riquezas naturais e econômicas das novas terras. Em suas próprias palavras, Azeredo Coutinho deixa transparecer como principal objetivo na formação no Seminário de Olinda:"Quando o habitante dos sertões e das brenhas for filósofo, quando o filósofo for habitante das brenhas e dos sertões, ter-se-á achado o homem próprio para a grande empresa das descobertas da natureza e dos seus tesouros; o ministro da religião, o pároco do sertão e das brenhas, sábio e instruído nas ciências naturais é o homem que se deseja. Eis aqui o objeto que tive em vista, quando aos estudos eclesiásticos juntei os estudos das ciências naturais nos estatutos que fiz para o seminário de Pernambuco por ordem de S.A.R., e que correm impressos" (Azeredo Coutinho citado por Cunha, 1980).
Depois de receber a Carta Régia com os estatutos da nova instituição em 1798, Azeredo Coutinho ainda teve de barganhar e muito com senhores de engenho e comerciantes por dividendos que pudessem custear as despesas com o pagamento dos professores leigos que passariam a ministrar aulas, tendo em vista que o governo português não dispensava nenhuma quantia para qualquer investimento na colônia. Apesar das dificuldades e contratempos, Azeredo Coutinho inaugura em 16 de fevereiro de 1800 o Seminário de Olinda, inicialmente destinado a educação de padres e que mais tarde também aceitaria membros da oligarquia pernambucana.
Os moldes da educação ministrada eram os mais liberais e "iluminados" possíveis haja vista que não se ensinavam apenas as "humanidades", mas principalmente matérias como, retórica, ciências naturais, física, geografia, filosofia e química. Esse panorama inovador na educação num ambiente ainda colonial como o Brasil estava totalmente de encontro aos ideais que se propagavam por toda a Europa após a Revolução Francesa e o advento do Iluminismo. Este ambiente totalmente liberal fez surgir mentes ávidas pelo progresso e pela transformação não somente cultural mas também e principalmente política da Capitania de Pernambuco. Inúmeros líderes insurretos após 1800 surgiram inicialmente nas cadeiras do Seminário, o qual se transformou no foco irradiador do sentimento anti-lusitano e republicano que já existia em Pernambuco desde o movimento de 1710 (Guerra dos Mascates). É inegável a importância do movimento renovador e contaminante das idéias vindas da Europa e das paragens francesas que aportaram no seminário através de seus mestres que puderam transmitir com total clareza a proposta o ideal revolucionário republicano fomentando nas mentes de homens determinados o desejo e a ousadia de pretender a liberdade ao invés dos grilhões da metrópole.
Padre Ribeiro, Padre Tenório, Padre Venâncio, Padre Miguelinho, Padre Roma, Frei Caneca e tantos outros bravos e destemidos homens que encarnaram e absorveram todo o ensino do liberalismo praticado no Seminário de Olinda, são hoje lembrados como os grandes desbravadores que vislumbraram o sonho da liberdade e se lançaram com todo o amor à causa de sua pátria, mesmo numa época extremamente inóspita. Foram homens que tiveram o privilégio, numa terra onde predominava o obscurantismo científico, de ter contato com conhecimentos que já estavam em voga na Europa e na América do Norte que trariam o progresso científico, educacional e cultural aos nossos ares não fosse o advento dos acontecimentos de 1817 e 1824.
Pela necessidade do momneto e da causa, o futuro brilhante do Seminário de Olinda foi infelizmente eclipsado após 1824, por ter se cruzado a sua história com os movimentos libertários ocorridos em Pernambuco no início do século XIX. Dos seus quase 133 alunos matriculados em 1800 restavam apenas 19 matrículas em 1824. Como um rastro de pólvora arrasador o Seminário de Olinda iniciou o século XIX em Pernambuco produzindo uma qualidade de mentes progressistas e rebeldes tão impressionante que fora apelidado de "foco de agitadores" onde reinava a "falta de disciplina dos alunos". Foi uma idéia ousada e arrojada de Azeredo Coutinho, um grande monarquista, que jamais imaginou na sua concepção que se transformaria num marco da história brasileira como primeiro e legítimo foco irradiador dos ideais republicanos e libertadores, que inspirou e provocou os irriquietos pernambucanos a buscarem construir a sua própria história.
Sergio A. F. Silva - sergioafsilva@hotmail.com
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