"As origens da iniciação se perdem na noite dos tempos. De épocas em épocas, surgem culturas e civilizações saídas das profundezas dos cultos e dos mistérios, que, em perpétua transformação, aparecem e desaparecem para reaparecer novamente.
O Grande Conhecimento é transmitido sucessivamente, de época a época, de povo a povo, de raça a raça. Os grandes centros de iniciação na Índia, na Assíria, no Egito, na Grécia, iluminam o mundo com uma Luz viva. Os nomes venerados dos Grandes Iniciados, portadores vivos da verdade, são transmitidos com reverência de geração a geração. A verdade, fixada por meio de textos simbólicos e lendas, é transmitida às massas para ser conservada sob a forma de costumes e de cerimônias, de tradições orais, de monumentos, de arte sacra, pela mensagem secreta da dança, da música, da escultura e dos ritos diversos. Ela é comunicada abertamente, através de provações determinadas, àqueles que a buscam e é guardada intacta por transmissão oral ao longo da corrente hermética daqueles que sabem. Mas, no fim de certo tempo, os centros de iniciação se extinguem uns após outros e o antigo conhecimento se retira para caminhos subterrâneos, dissimulando-se aos olhos dos buscadores.
Os portadores desse conhecimento (os iniciados) também se dissimulam fazendo-se desconhecidos daqueles que os cercam, mas não deixam de existir. De tempos em tempos, vêm à tona correntes isoladas, mostrando que em algum lugar nas profundezas, mesmo em nossos dias, flui a poderosa corrente do antigo conhecimento do ser.
Abrir passagem até essa corrente, encontrá-la, é a tarefa e o objetivo da busca; porque depois de tê-la encontrado, o homem pode confiar-se com audácia ao caminho em que se engaja; em seguida, resta-lhe apenas "conhecer" a fim de "ser" e de "fazer". Nesse caminho, o homem não estará inteiramente só; nos momentos difíceis, receberá apoio e orientação, porque todos os que seguem esse caminho estão ligados por uma cadeia hermética ininterrupta.
Conhecer-se e se desenvolver é uma tarefa de tal importância e seriedade, exigindo tal intensidade de esforço que tentá-la da maneira habitual, entre outras coisas, é impossível. O homem que empreende essa tarefa deve dar-lhe o primeiro lugar em sua vida, que não é tão longa que ele possa se permitir desperdiçá-la em futilidades.
Na vida da humanidade, há períodos que coincidem geralmente com o começo do declínio das civilizações, em que as massas perdem irremediavelmente a razão e se põem a destruir tudo o que séculos e milênios de cultura haviam criado. Tais períodos de loucura que coincidem freqüentemente com cataclismos geológicos, perturbações climáticas e outros fenômenos de caráter planetário, liberam uma quantidade muito grande dessa matéria do conhecimento. O que requer um trabalho de recuperação, sem o qual ele se perderia. Assim, o trabalho de recolher a matéria esparsa do conhecimento coincide freqüentemente com o declínio e a ruína das civilizações.
As massas não procuram o conhecimento, não o querem, e seus chefes políticos – por interesse – só reforçam essa aversão, esse medo a tudo que é novo e desconhecido. O estado de escravidão da humanidade tem por fundamento esse medo. A humanidade tal qual é atualmente, com os interesses pelos quais vive, não pode esperar outra coisa senão o que tem."
Gudjieff - 4º Caminho
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